SAIBA COMO A VIOLÊNCIA URBANA PODE AFETAR SUA SAÚDE MENTAL
- Cossinho Freitas

- 16 de jan. de 2023
- 3 min de leitura
O aumento da criminalidade e sua repercussão no cotidiano das pessoas têm reflexos na saúde mental. Uma das manifestações mais comuns em quem sofreu algum tipo de violência, como roubos e assaltos, é o transtorno de estresse pós-traumático. Sobre este assunto, conversamos com o psiquiatra Marcelino Henrique Melo, formado pela Faculdade de Medicina de Itajubá, com residência em Psiquiatria no Hospital do Servidor Estadual de São Paulo.

O QUE É O TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO E QUAIS SÃO SEUS SINTOMAS?
O transtorno de estresse pós-traumático é geralmente causado por algum evento estressor em que o paciente começa a desenvolver sintomas posteriores a este trauma, como se estivesse revivendo aquela situação. Por exemplo, depois de meses de uma agressão física ou um assalto, o paciente revive este fato. Entre os sintomas do transtorno do estresse pós-traumático, também estão sintomas físicos, como sudorese, taquicardia e palpitações. Além disso, outros sintomas que podem aparecer são angústia, tristeza e a evasão, ou seja, a pessoa foge do local ou de situações semelhantes à que aconteceu o evento que deu origem ao transtorno. É importante ressaltar que nem todo estresse que a pessoa passa é necessário ser tratado com medicamento.
QUAIS OUTROS TRANSTORNOS ESTÃO SUJEITAS AS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA URBANA?
Algumas pessoas desenvolvem quadros depressivos que se assemelham ao transtorno de estresse pós-traumático, fobias sociais e transtorno de ansiedade. Os sintomas psicóticos são um pouco mais graves e raros neste tipo de situação.
A PESSOA PODE SOFRER ALGUM TIPO DE TRAUMA MESMO NÃO SENDO VÍTIMA DIRETA DE UM ATO VIOLENTO, COMO UM ASSALTO, POR EXEMPLO?
Trauma não, pois o trauma pressupõe que a pessoa tenha vivenciado esta violência. O que ela pode viver é um medo exacerbado ou até alguma fobia relacionada a este temor.

O QUE A PESSOA DEVE FAZER AO CONSTATAR OS SINTOMAS DESTES TRANSTORNOS?
Primeira coisa é definir o que é o transtorno e o que não é. Segundo pesquisas, de 20 a 25% das pessoas que passaram por algum tipo de violência urbana vão desenvolver o transtorno de estresse pós traumático. Quando a pessoa começa a ter prejuízos em sua vida social, deixando de sair de casa ou evitando encontrar muitas pessoas, é a hora de procurar ajuda.
EXISTE ALGUMA MANEIRA DE EVITAR QUE ESTES TRANSTORNOS APAREÇAM?
É difícil, visto que não é possível prever a violência. Certo é que algumas pessoas tem mais predisposição a desenvolver estes transtornos. Se a pessoa passou por uma situação de violência, mas ainda está se sentindo incomodada, é interessante procurar ajuda psicológica.

O TRATAMENTO PARA ESTE TIPO DE TRANSTORNO É DIFERENTE ENTRE ADULTOS E CRIANÇAS?
É diferente, pois os sintomas e o prognóstico difere entre adultos e crianças. A necessidade de um tratamento medicamentoso vai depender de cada caso. Em geral, as crianças reagem com maior retração que um adulto. Em ambos os casos, a psicoterapia é o mais indicado. Dependendo do trauma, a criança pode desenvolver quadros depressivos no futuro, assim como pode ser um gatilho para outros transtornos, caso não haja tratamento.
O TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓSTRAUMÁTICO AFETA AS RELAÇÕES DE TRABALHO?
Sem dúvida. As pessoas que estão sofrendo deste transtorno tendem a ter o rendimento comprometido. Quando o evento estressor aconteceu no ambiente de trabalho a situação é ainda mais complicada, pois a tendência da pessoa é evitar este local.
O TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS TRAUMÁTICO TEM CURA?
É difícil dizer que há cura, pois isso significaria dizer que a pessoa nunca mais vai sofrer deste transtorno. Mas há tratamento, que melhora significativamente a qualidade de vida do paciente. Mas também há pacientes que, mesmo com tratamento, ainda ficam com sintomas residuais.
PROFISSIONAIS QUE LIDAM DIRETAMENTE COM A VIOLÊNCIA EM SEU AMBIENTE DE TRABALHO, COMO ASSISTENTES SOCIAIS, POLICIAIS E PSICÓLOGOS, DEVEM TER ALGUM TIPO DE ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO PERMANENTE?
O ideal é que sim. Estas pessoas lidam com situações estressoras cotidianamente, então é necessário que elas tenham abertura para procurar tratamento caso haja necessidade.

EXISTEM FATORES PSICOLÓGICOS QUE INFLUENCIAM NO AUMENTO DA CRIMINALIDADE NOS ÚLTIMOS ANOS?
O problema da criminalidade é multifatorial, que envolve as condições sociais, econômicas e, muitas das vezes, a questão da dependência química. Creio que é uma questão bastante ampla.
EM QUAIS SITUAÇÕES É INDICADO O TRATAMENTO MEDICAMENTOSO?
No caso de transtorno de estresse pós-traumático é necessário medicamento em quase todos os casos. Já em casos de fobias é possível indicar apenas a psicoterapia na maioria deles. Quando há necessidade de medicação, são indicados os antidepressivos e, caso o paciente apresente sintomas psicóticos, é necessário o uso de antipsicóticos. Os ansiolíticos são usados, geralmente, no início do tratamento.

Dr. MARCELINO HENRIQUE DE MELO é especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria, membro titular da Associação Brasileira de Psiquiatria e membro titular da Associação Brasileira de Neoropsiquiatria Geriátrica. Atende em seu consultório na Avenida Arouca, 20. Tel.: 3521-6885









Comentários